sábado, 24 de março de 2012

Identidade, personalidade e confusão generalizada

Identidade ou personalidade?! Quando pensamos sobre nós mesmos ou outras pessoas, geralmente buscamos por definições, traços que nos/as identifiquem, e assim por diante. Mas, na maior parte das vezes, há uma grande confusão sobre os termos utilizados, e muita gente não faz a menor diferenciação entre eles, bem como não fazem a menor ideia de que há diferença entre esses termos (e nem ligam para isso, como também não fazem a menor questão de saber diferenciar).

Ainda assim, persiste a questão: qual a diferença entre personalidade e identidade? Temos apenas uma identidade, ou múltiplas? De que serve ficar falando disso tudo? 
 
Bom, realmente, não sei…comecei a pensar mais a fundo sobre isso recentemente, ainda estou pensando, e ainda não consegui chegar a conclusões definitivas (ninguém conseguiu ainda, a propósito). O que me fez pensar ainda mais sobre isso, ultimamente, foi alguma reflexão sobre a “unicidade” ou “multiplicidade” da identidade/personalidade do indivíduo (claro, estava refletindo sobre mim mesmo, inicialmente). Somos um só, ou cada um tem mais de uma identidade/personalidade, que adequa a cada situação, etc.?!

Mas, vamos tentar raciocinar e explorar o assunto um pouco…apenas iniciar o tópico de discussão…rs.

Qual a diferença entre identidade e personalidade?

Bom, de acordo com informações buscadas na Wikipedia (sim, lá mesmo, na falta de livros específicos e teóricos aqui…rs), identidade significa todos aqueles conjuntos de características que identificam algo, seja pessoa, animal, planta, objetos inanimados, etc. A Wikipedia (em Português) diz o seguinte:
Identidade é o conjunto de caracteres próprios e exclusivos com os quais se podem diferenciar pessoas, animais, plantas e objetos inanimados uns dos outros, quer diante do conjunto das diversidades, quer ante seus semelhantes.
Sua conceituação interessa a vários ramos do conhecimento (história, sociologia, antropologia, direito, etc.), e tem portanto diversas definições, conforme o enfoque que se lhe dê, podendo ainda haver uma identidade individual ou coletiva, falsa ou verdadeira, presumida ou ideal, perdida ou resgatada.”
Já com relação a personalidade, significa todos aqueles conjuntos de características psicológicas que determinam a individualidade pessoal de um indivíduo. A Wikipedia diz o seguinte:
Personalidade é o conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade pessoal e social de alguém. A formação da personalidade é processo gradual, complexo e único a cada indivíduo. O termo é usado em linguagem comum com o sentido de "conjunto das características marcantes de uma pessoa", de forma que se pode dizer que uma pessoa "não tem personalidade"; esse uso no entanto leva em conta um conceito do senso comum e não o conceito científico aqui tratado.”

Há diferentes ângulos e óticas sob os quais tentar definir a questão da identidade, bem como há diversas teorias e esferas que buscam explicar a personalidade. Tudo pode acabar ficando excessivamente teórico, complexo e complicado. Mas, de uma forma bem resumida, pode-se dizer o seguinte:

Identidade é quem, ou o quê, você é.
Personalidade é como você é.

P.S.: Alguém fez essa pergunta lá no Yahoo! Respostas, onde também dei uma olhadinha a mais…rs. Link: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20091114191242AAgspVD

Uma certa bagunça

Ainda assim, tentar diferenciar identidade de personalidade pode ser algo um tanto confuso, um certo caos. Mesmo os artigos mais acadêmicos costumam, aparentemente, utilizar os termos de forma um tanto “solta”, às vezes empregando um termo, às vezes outro, de modo que ficamos sem entender se deveriam estar realmente usando um termo em detrimento do outro.

De qualquer modo, ao falarmos de um indivíduo, nesse caso “humano”, aqui nesse post (obviamente), podemos dizer que devemos tratar de uma identidade e uma personalidade, ainda que não consiga, aqui, identificar se tais elementos funcionem em algum sistema hierárquico de “importância”, ou se possam funcionar em separado (em paralelo ou individualmente), e assim por diante.

Também, somos forçados à questão: temos uma ÚNICA personalidade/identidade central, ou cada indivíduo pode conter, em si, múltiplas personalidades/identidades?! E não estou falando de pessoas com problemas mentais, múltiplas personalidades em casos de psicopatias, nem algo do gênero. Inicialmente, estou falando de pessoas (consideradas) sãs mesmo, do indivíduo “comum”, andando por aí, pelas ruas, enxergado como “perfeitamente normal” pela sociedade e, em geral, também pelos especialistas. Mas, voltaremos a isso mais tarde.

Identidade

O que nos define?! Bom, talvez a pergunta seja de resposta demasiadamente complexa. Para a sociologia, o que nos define são nossas características singulares com relação ao grupo/sociedade ao qual pertencemos. Para a antropologia, pode ser algo mais básico, aquilo que nos identifica perante todos os demais similares (ou seja, humanos) a nós.

A questão pode confundir e ficar confusa justamente pela variedade de parâmetros que podemos adotar ao tentarmos definir “identidade”, sendo possível variar conforme aquilo que tomamos por base. Já cheguei a falar sobre isso em outro post, que pode ser lido via link a seguir: http://hipercognitivo.blogspot.com.br/2011/03/identidadequal-e-sua.html.

Qual a minha identidade? O lugar onde nasci e cresci, e tudo aquilo ligado a isso, e que me “definiu” nos meus anos fundamentais de construção do meu eu? Ou minha identidade começa a surgir a partir da época em que começo a fazer minhas mais significativas escolhas sociais (em geral, tida como a fase da adolescência)? Ou seria algo ainda mais profundamente ligado a elementos formadores de minha psique?!

Personalidade

O que me define como pessoa? Será tudo aquilo que construí ao longo da minha vida, e me mostra aos demais como sou? Seria aquilo que me descreve em meu íntimo mais profundo, ou o modo como me apresento e sou visto pelos demais ao meu redor?

Há diversas teorias sobre a formação da personalidade, algumas dando como chave o papel da interação do indivíduo com seu meio social, outras buscando uma ligação mais interior ao indivíduo. E, se há variação até mesmo acadêmica, como nós, “simples mortais”, então, poderemos definir o que personalidade significa?! Bastante complexo o tema, claro.

Então, o que me define?

Pois é, essa é a grande questão: o que me define? Mas, não há somente essa questão. Há muitas outras, como:
- O que me define? Que elementos são mais centrais a essa definição?
- A partir de que momento da vida algo começa a me definir?
- O que/quem me define como sou? Apenas eu, ou o meio com o qual interajo?
- Posso me definir individualmente, ou apenas (e sempre) se relacionado ao todo, ou mundo à minha volta?
- Etc., etc., etc.

Também fico me questionando sobre a “unicidade” daquilo que me define e identifica, se realmente existe. Se há uma simples junção de fatores formando o “um” que sou, ou se, ainda, os diversos elementos que me compõe ainda poderiam carregar certo grau de independência entre si, sendo esse “um” que penso ser, esse conjunto de elementos mostrados num ser único, apenas uma representação aparente, de modo que aquilo que penso ser, ou o que me veem como sendo, seja não mais do que uma imagem singular de algo que é múltiplo.

Sou um conjunto de identidade + personalidade me tornando aquilo que sou? Ou seria eu um conjunto de identidades e personalidades (plurais) que me descrevem como sou visto?
Ainda, o que exatamente, ou melhor, sob que ótica passo a me definir como pessoa, singular e única? Seria minha razão ou minha emoção que me definem (há considerações adicionais sobre isso que não comentarei aqui, nesse post, ainda)?* Serei eu somente um resultado de fatores terrenos, ou seja, tudo aquilo que acontece comigo em minha vivência terrena, de minha biologia às minhas interações como ser social? Ou seria eu ainda mais que isso, havendo um elemento extra-corpóreo na equação, aquilo que se chama de alma, ou espírito?**

* Alguns defendem, piamente, de que razão e emoção são apenas demonstrações aparentes (e aparentemente distintas) da expressão de um ser. Me indago se realmente seria apenas isso, ou se voltamos à questão da “figura aparente” de unicidade para um “eu” que é múltiplo em seu interior. Isso é caso para outro post, mas levemente abordado na próxima parte desse post aqui.
** Essa é outra questão complexa que deve ser abordada noutro momento. Alguns dizem que a alma é algo metafísico, ou extra-corpóreo, até mesmo “divino”. Outros, mais racionalistas, dirão que a “alma” é apenas a expressão de nossa individualidade, advinda de fatores de nossa psique, ou mesmo, mais simplificadamente, de fatores relacionados a nossa biologia e bioquímica em interação com o meio em que vivemos. Novamente, caso para exploração mais aprofundada noutro momento, noutro post, possivelmente.

Indivíduo singular ou múltiplo

Esse questionamento foi o que realmente originou esse post todo, e todas as reflexões que tenho feito recentemente. Somos seres de identidade / personalidade singular, única, indivisível? Teríamos uma identidade central/base, com múltiplas expressões e/ou manifestações possíveis? Existe uma personalidade totalmente individual, inata ao indivíduo, ou um fator essencial seria algo relacionado àquilo que é chamado de inconsciente coletivo, ou mesmo arquétipos coletivos, como descritos (especialmente) por Jung?

Bem, muitas teorias sobre identidade levam em consideração a linguagem como algo de grande importância para a formação e desenvolvimento da identidade / personalidade. Algumas teorias acabam por exagerar no papel da linguagem sobre esse tema. Outras conseguem enxergar que a coisa não é bem assim, pois a linguagem estruturada do ser humano moderno é tão somente uma expressão social desse, e se uma pessoa fosse totalmente privada de interação social, ainda assim teria uma personalidade e identidade, obviamente apenas notada ou diferenciada quando em comparação com outros seres do mesmo tipo.

Enfim, todo esses questionamento (que venho fazendo, na verdade, há muitos e muitos anos) me veio com força, meio timidamente, quando resolvi fazer um breve texto sobre a linguagem e identidade cultural com relação à linguagem, especialmente no tangente à aquisição da linguagem e aprendizado de um idioma além daquele nativo ao indivíduo. O objetivo era auxiliar meus alunos (entre outras profissões, sou professor de Inglês há mais de uma década e meia, praticamente) a entenderam aquilo que realmente envolve o aprendizado de um segundo (ou terceiro, etc.) idioma.

Ao começar a preparar esse texto, me deparei com uma antiga citação, a qual já havia visto nos tempos de faculdade, sobre Ênio e suas três almas (post já escrito, aqui), poeta romano antigo que dizia que tinha três “almas”, pois falava fluentemente três idiomas. Bom, mas ao buscar uma imagem (no Google) para ilustrar o post, me deparei com diversas imagens e textos vinculados a essas, e um texto em especial acabou por me levar novamente ao questionamento da questão das identidades, únicas ou múltiplas. O texto foi de uma mulher, chamada Cheryl (aparentemente), pelo jeito uma estudante ou graduada em psicologia (possivelmente) ou apenas fã do tema, que tem (ou tinha) um blog, sendo o post que me chamou atenção o seguinte: http://cherylcanwrite.blogspot.com.br/2010/01/psychology-do-we-have-one-core-identity.html

Enfim, no post mencionado acima, a tal Cheryl faz menção a duas teorias da identidade: a “teoria do construcionismo social” versus a “teoria psicológica de Erikson”. Nele, ela divaga sobre a questão de que a teoria do construcionismo social afirma que apenas temos identidades sociais, ou deja, demonstramos identidades múltiplas com base no meio social e na linguagem, não havendo uma identidade exclusivamente única, em oposição à teoria de Erikson, que afirma termos uma identidade central/base, demonstrando também diversas outras identidades sociais que variam de acordo com o meio social em que estamos. Enfim, ela advoga pela teoria de Erikson, o que concordo em grande parte. Ainda assim, acredito que isso seja somente parte da questão, talvez mesmo apenas a ponta do iceberg, e que ainda hajam questões mais fundamentais a serem discutidas sobre o tema.

De modo geral, o que dizem, seja numa teoria ou outra, é que a representação de nossa identidade varia de acordo com o meio social, havendo ou não uma identidade base/central. Ou seja, dependendo do grupo com o qual interagimos, demonstramos uma identidade distinta (tanto para o grupo, como para consigo mesmos), sendo essas identidades não mais que o conjunto de características que demonstramos, como comportamento, linguagem utilizada, e assim por diante. Ainda fico me perguntando sobre os constituintes mais fundamentais com relação a questão da identidade e personalidade, que não me pareceram suficientemente abordados em nenhuma das teorias citadas.

Uma visão um tanto pessoal e incomum

Bom, claro que, de modo geral, apenas podemos enxergar o mundo através de nossos próprios olhos, e de mais ninguém. Uma observação um tanto óbvia, mas que acarreta uma série de elementos não tão óbvios, e fora de alcance da compreensão da grande maioria dos indivíduos, seja por capacidade intelectual ou indiferença ao assunto. Outra questão a ser abordada num outro post, numa outra hora. Sendo assim dito, o que quero dizer é que todas essas considerações, indagações, opiniões e visões são relativamente subjetivas (racionalmente ou não) ao indivíduo que as expressa: nesse caso, aqui, eu!

Tendo considerado essa questão, então, posso afirmar, também, que esse autor, aqui, tem questões pendentes quanto a verificação de alguma psicopatia (nada relacionado a visão de “psicopatas” que temos por aí) possivelmente a ser constatada. Mas, o que isso interessa? Bom, o problema é que essa delicada questão da identidade e da personalidade tem direta ligação com o assunto aqui discutido, bem como às tais possíveis psicopatias do autor. Não cabe, aqui, mencionar todas essas possibilidades e problemática, mas um certo aspecto delas faz todo o sentido, sendo o ponto focal de toda essa discussão.

Não sei determinar exatamente qual o problema, ou mesmo se há realmente um problema, mas há tempos me indago sobre minha “sanidade”, rs. Posso confessar ser um tanto incomumente confuso e complexo, especialmente naquilo que tange a diferenciação entre racionalidade e emocionalidade. Isso já cheguei a abordar, mesmo que de leve, num outro post em outro blog (clique aqui para ler). Fato é que, de certo modo, me percebo como um indivíduo em que razão e emoção realizaram uma cisão bastante fora do comum, quase tornando-se absolutamente distintas dentro do indivíduo, como se fossem duas “identidades” distintas e distantes dentro de um mesmo ser, aparentemente único. Questão, talvez, para um outro post, com melhor descrição, pois há quem diga que isso seja normal em qualquer indivíduo…mas, falo de uma dicotomia mais profunda, diferente. Enfim…

Outra questão que se mostra essencial, ligada, ou não, à questão mencionada logo acima, é o problema da “despersonalização”, tida pela psicologia/psiquiatria como uma desordem dissociativa. Já cheguei a abordar um pouco o assunto num outro post, em um outro blog que mantinha em Inglês (clique aqui para ler). Basicamente, o indivíduo que sofre dessa tal “despersonalização” (e são raros) tem uma relação bastante complicada e dura com a “realidade”. De modo geral, é como se existisse uma consciência à parte de nós mesmos, uma consciência “neutra” separada do indivíduo, que apenas observa o indivíduo, tanto dentro de nós mesmos, como nossas próprias ações exteriores, ou seja, nossos comportamentos. Isso traz uma sensação totalmente estranha, de estranhamento próprio, bastante difícil de se descrever. Não digo que sofro desse mal em tempo integral (pelo menos não percebo assim, ou sou distraído demais para perceber isso a todo momento), mas tenho episódios da desordem com significativa frequência e graus de intensidade.

O que isso tem a ver em relação a tudo que está sendo discutido aqui? Bom, justamente a questão toda da identidade. Ao sofrer desses episódios de despersonalização, somos capazes de nos enxergarmos “por fora” de nós mesmos, e identificarmos diversos elementos pessoais, como se tratasse de uma outra pessoa. Enxergamos nossos pensamentos e sentimentos fora deles mesmos. Algo bastante estranho, mas possivelmente elucidativo. Afinal, todo o questionamento aqui é sobre quais seriam os elementos fundamentais da personalidade e identidade, se há algum elemento único, se é algo inerente ao indivíduo, se são elementos biológicos/bioquímicos, ou se há algum elemento metafísico existente. Durante tais episódios de “despersonalização”, essa consciência “externa” parece ser algo como um robô, sem emoção ou razão próprias, apenas uma consciência observadora, que enxerga aquilo que acontece no indivíduo e exteriormente a ele, sem opiniões ou reações, apenas observação pura, de certo modo.

Assim, isso me faz pensar profundamente no que realmente signifique a questão da identidade e personalidade. Seriam essas realmente algo único e “palpável” (no sentido de explicável, formado, estudável, particionável, etc.), ou seriam apenas fatores distintos expressados através de uma máscara, ou roupagem, que é nosso indivíduo? E nesse caso realmente não sei dizer de trata-se realmente de psicopatia(s) ou não, mas posso sentir fortemente uma forte dissociação de elementos relacionados a personalidade e identidade. Realmente, o sentimento é de haver uma grande multiplicidade de identidades e personalidades. Parte delas, comum a maioria dos indivíduos, pois realmente demonstramos variações de expressão dependendo dos grupos sociais com os quais interagimos e das situações nas quais nos encontramos. Mas, em alguns casos, essa dissociação de elementos é realmente forte, de modo que a questão da multiplicidade desses elementos aqui tão falados torna-se extremamente questionável ou de necessário questionamento.

Resumindo, a questão central aqui é: somos uma expressão única e constante, temos um elemento realmente central e profundamente básico, algo que nos define como indivíduos únicos? Digo, algum tipo de elemento mais profundo e único. Ou, somos não mais do que uma grande somatória de elementos, bastante independentes entre si, sem qualquer singularidade de conjunto, ou seja, não havendo qualquer elemento mais nuclear e singular ao indivíduo? Acredito que essa simples questão envolva uma diversidade, e enormidade, de outros temas e questionamentos, que não caberiam num único texto, nem mesmo em uma única área de conhecimento humano (já existente ou ainda por surgir), como psicologia, sociologia, antropologia, teologia, filosofia, e assim por diante.

Enfim, o texto ficou enorme e, como de costume, mostrou-se ser apenas um debate de questionamento, não de definição ou descrição. Afinal, o que sabemos nós? Como já dizia Sócrates (o filósofo grego antigo) e sua famosa citação: “Tudo que sei é que nada sei”!


0 comentários:

Postar um comentário