domingo, 29 de maio de 2011

Pessoas com Altas Habilidades

Me ocorreu escrever sobre esse post após diversas (auto) reflexões sobre o assunto, mas a decisão final veio após encontrar, acidentalmente, um blog sobre o assunto (o Adultos com Altas Habilidades), após pesquisar no Google, novamente, sobre "depressão existencial", algo bastante comum em "pessoas com altas habilidades", comumente chamadas de PAH.

Em primeiro lugar, começo com o fato de pessoas que fazem "parte desse grupo" costumam sofrer grande pressão da sociedade, seja pela cobrança de grandes resultados nos campos de pesquisa ou profissional em geral, seja por serem considerados "pretensiosos, arrogantes, etc." quando se identificam como tal.

Tendo dito isso, posso confessar...pelas avaliações que tenho feito desde criança, sou um dos que faz parte desse grupo, grupo este que contém tanto benefícios como pontos negativos, que podem trazer diversos malefícios aos PAH. E, como adendo, um PAH não é somente uma pessoa com alto QI, visto que tanto se discute sobre os conceitos de "múltiplas inteligências". Além disso, também, há diferenças nas medições e avaliações de QI feitas entre crianças e adultos, sendo que na fase adulta os índices são obtidos através de variações, etc. (assunto pra uma outra hora, ou para que você mesmo faça sua pesquisa no Google).


Enfim, lembro-me que, aos 12 anos, havia feito um teste, cujo resultado havia sido entre 148 e 152 (não me lembro por qual teste, afinal há diversas variedades, com pontuações diversas), o que caracteriza superdoção na maioria dos testes disponíveis. Mas, não compreendia bem, na época, as ramificações das consequências do que isso realmente significaria, especialmente de modo prático.

O objetivo desse post, em suma, apenas é levantar a questão dos adultos com PAH e os problemas enfrentados por eles. A leitura do tal blog supra-referido me fez re-pensar diversas questões que sempre me incomodaram. Primeiro, a questão do preconceito sofrido, afinal quando se fala sobre isso geralmente recebemos o olhar de "olha, que metido", ou então o do tipo "e cadê suas geniais realizações?!". Mas, ser um PAH, na verdade, é algo bastante complexo, muitas vezes "doloroso".

Por exemplo, pessoas "dotadas" estão entre as que mais sofrem de depressão do tipo "existencial" persistente, algo já comentado no post anterior. O constante pensar nos propósitos da vida, nas questões da existência são bastante comuns, e as respostas geralmente são insatisfatórias ou impossivelmente conclusivas, fato que torna-se grande frustração na vida de um PAH.

Alguns PAH são meio generalistas, ou seja, tem habilidades para diversas áreas de conhecimento (não todas, claro), já outros são dotados em áreas mais específicas, seja a musical, seja a literáriam, ou outras. Outros, no entanto, não são exatamente gênios em nada em particular, mas possuem uma grande capacidade em compreender conceitos teóricos avançados em diversas áreas de conhecimento, mesmo que nada em profundidade. Em geral, isso acontece porquê diversos PAHs não conseguem desligar suas mentes, nem por um momento, fazendo com que pensem desenfreadamente sobre uma variedade de assuntos, tudo ao mesmo tempo, criando verdadeiros furacões mentais, que o impedem de se concentrar no que quer que seja (caso dos HiperCognitivos, em geral, o que posso falar mais por mim, do que pelos outros, pois não os conheço...rs.).

Enfim, já viram que esse é meu caso. A falta de concentração é forte, pois a mente rapidamente se perde entre incontáveis outros pensamentos, e acabamos por não mais lembrar do fator desencadeador de algum pensamento específico, etc. Por isso, em alguns casos, é tão difícil a comunicação entre um PAH e um não-PAH. Muito frequentemente, PAHs se expressam através de conclusões de raciocínio, sem passar pela parte processual de como chegaram em tais conclusões. Ou seja, falam por "fins", enquanto as demais pessoas mal captaram os "meios", o que torna a comunicação complicada, frustrante (para ambos os lados, apesar de mais frustrante para o PAH, e irritante para o não-PAH), gerando "misunderstandings" (desculpem-me, a palavra me fugiu) constantes. Há, até, os casos em que PAHs passam por "estúpidos" ao não entender o que outras pessoas querem dizer com "indiretas" ou "expressões triviais", ou mesmo coisas do cotidiano, mas na verdade, não entenderam porque já pensaram em mil-e-uma possíveis ramificações para as tais expressões ou situações, e já não sabem qual escolher como provável ou verdadeira. Assim, logo dizem não terem entendido algo, passando por bobos, quando realmente o que fizeram foi pensar em mais possíveis/prováveis respostas/interpretações do que deveriam.

Para citar, não somente os lados negativos, como também alguns positivos, copio uma breve "tabela" que encontrei no post do blog supra-referido, sob o título de "Depressão Existencial - Dabrowski", que, por sua vez, foi copiado do texto original encontrado no seguinte link, http://www.hoagiesgifted.org/dabrowskis_theory_existential_depression_feb09.pdf, página 18. Esses são os aspectos positivos (a) e negativos (b) que geralmente acometem as pessoas do tipo PAH:

1(a)- Possibilidade de enxergar potencial; grandes expectativas sobre si mesmo e sobre outros; pensamento crítico. 1(b)- Necessidade de obter sucesso e reconhecimento; intolerância com outros; pode buscar padrões excessivamente altos; a frente de seu tempo.
2(a)- Adquire e retêm informações rapidamente. 2(b)- Impaciente com a lentidão de outros; pode ser visto como "sabe-tudo".
3(a)- Alta capacidade de armazenamento de informação em áreas avançadas; diversidade de interesses e habilidades; multi-talentosos. 3(b)- Problemas para decidir sua carreira; frustração com a falta de tempo; sentir-se diferente dos outros; solidão existencial; pode ser visto por outros como sempre em busca de controle.
4(a)- Intenso e intrinsecamente motivado; altos níveis de energia; persistentes; comportamento orientado por um objetivo. 4(b)- Personalidade "Tipo A"; dificuldade em relaxar; resistência à interrupções; pode negligenciar outros durante períodos de interesse focado; teimosia.
5(a)- Independente e auto-suficiente; criativo e inventivo; gosta de maneiras novas de fazer as coisas. 5(b)- Dificuldade em delegar e em confiar no julgamento de outros; rejeita o que já é sabido, conhecido; atrapalha planos ou hábitos de outros.
6(a)- Procura significado e consistência em sistemas de valores e comportamentos próprios e dos outros. 6(b)- Auto-crítica excessiva; talvez depressivo ou cínico em relação aos outros; algumas vezes 'mandão' ou dominador.
7(a)- Sensível aos outros; deseja relações emocionais intensas. 7(b)- Demasiado sensível à críticas alheias; relações de mentorado intensas que resultam em desapontamento profundo.
8(a)- Foco em causa-efeito; insiste em evidências corroborativas e provas. 8(b)- Dificuldades com aspectos humanos não-lógicos como emoções, tradições ou assuntos relativos à fé.
9(a)- Grande senso de humor, habilidade de rir de si mesmo. 9(b)- Seu humor pode não ser compreendido pelos outros; pode ser focado no absurdismo das situações; o humor pode ser usado para atacar outros ou mantê-los a distância.

Pelo que vemos, as dificuldades de interação social das quais sofrem tais indivíduos são bastante complexas, e precisam de acompanhamento profissional constante, em muitos casos. Isso porque a hiperatividade mental é algo que dificilmente possui botão de liga-desliga, mantendo a mente ativa por todo o tempo. Se não canalizada, pode gerar graves frustrações e crises depressivas nos indivíduos.

Muitos desses, na tentativa de minimizar a hiperatividade mental, ou como dizem alguns, à extrema sensibilidade aos estímulos externos providos pelo ambiente, acabam por voltar-se às drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Alguns optam pelo abuso do álcool ou drogas ilegais, como tentativa de refugiar-se do mundo externo, tão opressor e exageradamente cheio de estímulos à mente. Outros, optam pelos medicamentos anti-depressivos ou ansiolíticos, dos quais, por vezes, tornam-se dependentes, como forma de tentar aplacar o ímpeto irresístivel do pensar, do "cognitivar" em demasia.

Voltando a outro aspecto mencionado anteriormente, alguns PAHs simplesmente não conseguem parar de pensar, não conseguem focar-se em determinado assunto específico, sentindo-se extremamente frustrados por não conseguirem levar nada a cabo, ou seja, sempre começam algo, mas não terminam. Querem estudar Francês, mas logo interessam-se por estudar Russo, ou Klingon. Daí, começam a pesquisar sobre Teoria das Cordas ou Teoria do Caos, mas logo se distraem com os estudos da Ciência Noética, em seguida por cinema, e depois por Astrologia, depois por Biologia, e então por Filosofia, depois por práticas budistas antigas, e assim por diante. Simplesmente, não conseguem focar, ou canalizar, suas mentes em nada específico por muito tempo.

O grande problema disso, especialmente, é quando começam a se "embrenhar" rapidamente nas diversas ramificações mais avançadas de cada assunto, sem reter nada em especial na profundidade de cada tema. E isso ainda piora quando tenta-se associar cada um dos temas estudados uns com os outros. Imagine tentar conjugar Teoria do Caos, com Lei de Murphy, com Sociologia, com Biologia, com Teoria das Cordas, com estudos da linguagem (linguística), com budismo e religião em geral, com expressão da arte, e assim por diante. Uma tremenda confusão de idéias, sem nenhum resultado satisfatório. Daí a tal "depressão existencial"! E, suspeito (e falo por suspeitas, não tenho provas concretas, apenas conjecturas empíricas) que grande parte de PAHs com esse perfil sejam, assim, Agnósticos puros. E, também, suspeito que grande parte faça parte do tipo INTJ, de acordo com o teste MBTI.

Enfim, o post já virou bagunça mental, como esperado. Mas, basicamente, o objetivo era apontar que não apenas há um lado positivo, cheio de benefícios, como se espera em pessoas com algum tipo de"superdoção", mas que há também o "lado escuro da força" (desculpem a brincadeira "geek"...rs), lado que requer, muitas vezes, acompanhamento profissional para evitar problemas maiores de ordem psíquica. É isso! Até mais!

Ah, outro artigo que acabei de achar, antes de postar esse post...rs.: http://www.bipolardisability.net/2010/02/link-between-bipolar-disorder-and-high-iqcreativity/

4 comentários:

RDM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
RDM disse...

Cara, não desligo nunca. Me esforço pra isso, mas não dá. As vezes chego a me sentir exausto, mas ainda assim não consigo parar de pensar, tentar estabelecer padrões, entrever soluções, me indignar com a inépcia da maior parte da humanidade, enfim... Acho que vc sabe do que eu estou falando né..

Sou hiper-cognitivo e enfrento exatamente o que vc descreveu no seu texto. Tem sido difícil viver assim, não exclusivamente, mas, principalmente em relação à solidão intelectual.. puts..


Sou tido como “metido”, “pretensioso”, “arrogante” quando na verdade eu não sou nada disso. Falo de coisas com as pessoas na tentativa de fazê-las raciocinar, de romper aquele endêmico estado de dormência mental, na tentativa de estabelecer um diálogo, mas 99% das vezes não há êxito algum. Só tenho visto muita preguiça mental, muito medo de pensar e descobrirem-se perdidos no mundo e mais e mais sobre suas próprias mazelas existências..


É um ciclo pernicioso, enquanto mais procuro entender a humanidade em seus mais variados aspectos mais eu me afasto dela. Milhares de Cds, quase 1.000 arquivos entre filmes e documentários de , milhares de livros nas prateleiras... e a cada novo esforço de compreensão, a humanidade me parece cada vez mais angustiantemente imersa em uma paralisia das capacidades intelectuais que extrapolam minimamente o automático, quase restrito ao estímulo e resposta. É como se a humanidade se parecesse cada vez mais com os pombos de Skinner..

Enfim, são muitas angústias que desviam do prazer do estudo e descoberta,. O prazer se tornam tortura ... já faz tempo que não consigo sentir o êxtase da descoberta de um elemento novo, de um padrão ou lei que se apresenta. É um turbilhão que se nunca se desfaz..

Estive dando uma olhada no seu blog e penso que seria muito bom manter contato contigo. Se vc tiver alguma forma de contato, e-mail face book, sei lá qq coisa.

Extrapolei o tempo.. preciso ir..

RDM..

RDM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
HiperCognitivo disse...

Olá RDM,
percebi que deve ter havido algum tipo de problema no Blogger. Não excluí seu comment inicial, como você pode ter pensado. Não sei o que ocorreu!

De qualquer forma, muito bom ver outro HiperCog por aqui. Podemos manter contato, sim! Sei muito bem do que você está falando...realmente, em grande parte das vezes, nos sentimos muito solitários naquilo que envolve nossa busca por evolução intelectual, e assim por diante.

Se ainda tiver interesse em manter contato, deixe alguma mensagem aqui no blog, ou algo assim.

Abs.

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