Eu não tenho medo da morte...não dela em si. Tenho medo da possível dor a causá-la, desejando, quando vier a
acontecer, que seja indolor e rápida. Não acho a morte tão ruim assim, apenas receio não ter terminado de viver o
que deveria ter vivido. Pois a morte é tão só um momento, um marco na história de uma vida, um ponto - talvez
final, talvez um que inicie um próximo capítulo (há debates em questão).
Já cheguei a desejar-lhe com intensidade, já cheguei a temê-la por demais, não a minha, mas a de quem muito me
deixaria saudade. Pois a morte não mais é do que isso, uma separação da qual se sabe não ter volta, ao menos não em
vida, essa única que temos...pois mesmo que possa haver uma próxima, não será mais essa, e sim outra.
Mas, enfim por quê será que tantos temem esse irremediável fim, esse final de história que é o término de uma
vida?! Diria que há vários fatores envolvidos: o medo do desconhecido, o instinto de sobrevivência, o envolvimento
de religião e cultura, o desconforto da perda, e assim por diante.
Além do mais, há uma outra pergunta (dentre tantas outras possíveis)...o que mais tememos, nossa morte ou a de
alguém que gostamos ou amamos?! Talvez, em base, esse temor compartilhe razões tanto em uma situação como na outra.
Mas, diria que o que realmente define a maneira como encaramos a morte é a forma com a qual fomos educados desde
pequenos, porém educação de uma forma mais geral, tanto a que recebemos da família, como da escola, e através de
tudo aquilo que vimos, vivenciamos e aprendemos ao longo de nossas vidas com o mundo ao nosso redor.
Há culturas que demonificam a morte, tratando-a como um terrível mal a ser evitado. Outras, encaram-na apenas como
um fim esperado de um ciclo natural. Há religiões que usam a morte como forma de controle para a vida, pregando o
medo de que nossas atitudes terrenas tragam um enorme e eterno castigo quando desse mundo partirmos. Outras, no
entanto, tratam essa questão de modo relativamente positivo, dizendo que a vida é apenas uma etapa de nosso
crescimento espiritual, e que há retornos, sendo o espírito imortal e eterno, onde a vida biológica acontece em
ciclos...nascemos, vivemos, morremos, experienciamos o pós-vida, e voltamos a iniciar um novo ciclo através de um
novo nascimento e assim por diante, até que, tendo atingido total maturidade espiritual, possamos encerrar essa
interminável roda de encarnações.
Também há um elemento mais concreto, ou o contrário, mais subjetivo e imaterial, para o medo da morte (talvez nem
sempre medo, mas um certo receio). Esse elemento é um instinto natural a qualquer ser vivo: o instinto de
sobrevivência. Afinal, se estamos vivos, é porque estamos vivos e assim devemos continuar. Senão, de que serviria
ter a vida para simplesmente perdê-la?! De forma geral, todo ser vivo busca permanecer vivo. Mas nós, seres
humanos, talvez por causa da capacidade de "reflexão" que temos, acabamos por levar esse instinto a extremos,
criando um temor não-natural com relação a essa eventualidade. Muitos outros animais simplesmente aceitam que irão
morrer, quando sua hora chega, esperadamente ao fim do ciclo natural em questão, ou seja, com a velhice.
Daí, surge outra questão...temos medo, ou receio, da morte em si, ou de uma morte antecipada, ou seja, de uma morte
via meios naturais de falecimento corpóreo (chamada "velhice")?! Pois se todos sabemos que um dia morreremos, então
não devia haver medo de uma morte natural, após ter vivido a vida que nosso corpo físico aguentou viver. Talvez
seja compreensível, então, o medo de uma morte que não a natural do corpo. Uma morte causada por elementos
externos, especialmente os que envolvam dor e sofrimento.
Enfim, aquilo que deveria ser não mais do que uma sabida etapa, a final, de toda e qualquer vida, torna-se elemento
de base para muitos temas e discussões, medos e angústias, e assim por diante. Há quem, em face de uma morte
vindoura evidente (como no caso de doentes terminais), passe a refletir sobre, e reavaliar toda a vida que teve.
Surgem dúvidas, arrependimentos, frustrações, e tantos pensamentos, bons ou ruins, muitas vezes de forma
incessante, consumindo aquilo que resta da vida do indivíduo. Mas, para quê?! Não seria mais simples aceitar o que
deve acontecer, aceitar que viveu a vida que viveu, e pronto?! Afinal, pensar, remoer, agonizar sobre aquilo que se
fez ou deixou de fazer em nada mudará aquilo que se é no momento. Talvez ainda haja tempo para consertar um ou
outro mal, resolver uma ou outra questão. Mas, se deve haver arrependimento e reflexões, esses deveriam acontecer a
cada dia de nossas vidas, e não apenas quando há a possibilidade de morte, quando percebemos que nosso tempo está
se acabando nesse plano terrestre.
Acho muito interessante o quanto de material de pensamento algo tão simples como a questão da morte nos traz, e que
envolve tantos elementos do infinito leque de possibilidades nesse mundo "humano". Há muitos filmes e livros que
tratam o assunto de forma bastante interessante e variada.
No que diz respeito aos livros, gosto muito dos trechos que tratam o tema, de forma direta ou relativa/indireta,
como em "Island", de Aldous Huxley, e mesmo da forma um tanto estranha e incompleta como na obra do filósofo
Schopenhauer.
Quanto aos filmes, há vários sobre o assunto. Segue alguns bastante interessantes, dentre tantos outros:
- Minha Vida.
Em suma...talvez o que de tão "preocupante" haja, realmente, sobre a morte, é que ela nos faz pensar sobre a vida,
e tudo aquilo que tememos nela.
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