sábado, 24 de janeiro de 2015

Platonismos

platonic love
Já que várias postagens anteriores falaram de relacionamentos, sentimentos e afins, porque não mais um post assim, não é mesmo? E, dessa vez, só pra ficar com cara de comédia romântica de uma vez, soar como romance de livreto...vamos falar de platonismos, ou melhor, de romances platônicos.

Mas, afinal, o que seria um romance platônico, ou um amor platônico?
Na concepção mais "pura", ou seja, de acordo com as filosofias de Platão, de onde foi tirado o termo, um amor platônico seria um amor puro, desprovido de paixões (pois essas são efêmeras, materiais, cegas e falsas), baseado na virtude do amor, e não simplesmente com o objetivo de saciar um desejo.
Porém, nos dias de hoje, acredito, um amor platônico é mais comumente visto como um amor com alguma impossibilidade de ser consumado, um amor que possui obstáculos à sua realização, que não pode ser revelado à pessoa amada (por algum motivo que seja), ou que não seja correspondido por tal. 


Partindo dessa breve definição, como deveríamos entender um amor platônico então?
Seria o amor platônico um amor puro, realmente? Se for puro, então ele não deveria ser um amor que causa sofrimento, nem um amor que ordena realização completa nos termos das relações carnais. Mas, não é assim que enxergamos esse tipo de sentimento acima descrito. Para nossa concepção corrente, amor platônico é um que dói por sua característica de irrealização.
De onde viria esse amor então? O que o causaria?

A pessoa acometida por esse amor realmente sente um amor verdadeiro? Possivelmente, sim. Mas, se nota a impossibilidade de realização do mesmo, porque mantém tal fixação por tal pessoa amada, ao invés de seguir adiante na busca de alguém que o ame de volta? Seria o amante alguém que sofre de algum distúrbio obsessivo? Talvez sim, talvez não.

Teríamos de entender, primeiramente, o que é o amor! No entanto, esse sentimento é motivo de debate há milênios, e, hoje, há até mesmo cientistas que alegam o amor não ser mais do que reações químicas ocorridas em nossos organismos, disparadas por circunstâncias específicas, ou seja, um sentimento fabricado, e que pode ser redirecionado. Mas, se pensarmos assim, seria difícil para nós, então, desejarmos amar, algo ainda difícil para um ser humano.

O que nos levaria, dessa forma, a continuar amando platonicamente? Quem sabe?
Talvez, a pessoa amada se enquadre nos requisitos pessoais que temos para alguém que nos seja ideal. E se nossos requisitos forem muito exigentes, encontrar alguém que satisfaça a todos pode ser algo bastante raro, portanto é de ser entendido que não queiramos abandonar o sentimento adquirido. Mas, esse mundo possui bilhões de pessoas, então não deve haver exclusivamente uma única pessoa que cumpra os tais requisitos...talvez elas estejam muito distantes (dependendo de quão complexos sejam esses requisitos), ou Murphy, e as leis da (im)probabilidade nos impeçam de encontrá-las.

A questão é que o amor platônico é complexo, complicado, e geralmente doloroso. Na maior parte das vezes, doloroso apenas para uma pessoa, quando é sentido apenas unilateralmente. Às vezes, doloroso para duas pessoas, quando é correspondido, mas enfrenta barreiras por ambos. O mais famoso caso é o de Romeu e Julieta, que até chegam a realizar/consumar seu amor, mas pagam com a vida por isso.

Há casos, também, em que o tempo é o maior inimigo de um amor platônico. Por exemplo, quando, por algum motivo, acabamos entrando num relacionamento satisfatório, e um tempo depois acabamos por nos deparar com alguém que nos cativa de forma intensa. Ou seja, o tempo foi inimigo pois trouxe o tal amor (platônico) no momento errado - ou tarde demais, ou cedo demais Se nos permitirmos começar a sentir um pouco desse amor, acabamos embarcando em uma situação desconfortável, onde não podemos explorar, ou confirmar, a real veracidade e intensidade e validade desse sentimento, caso queiramos permanecer fiéis à pessoa com quem atualmente temos um relacionamento ativo. E isso causa dor, pois a dúvida de que esse novo amor surgido, e intenso, possa ser aquele que, de fato, nos completaria do modo com que sonhamos, que nos faça sentir inteiros. Afinal, se não tentarmos descobrir se esse sentimento é como esperamos que seja, teremos o medo da frustração de termos perdido a oportunidade de nos sentirmos completos. Por outro lado, se resolvemos experimentar, ou mesmo tomamos a atitude de trocar um relacionamento por um novo, com a outra pessoa que nos era "platônica", há então o risco de descobrirmos que tudo não passava de um desejo mais carnal.
Ou seja, há o medo de apostar no amor platônico e ele não ser aquele amor puro do qual Platão falava, e sim, justamente o outro tipo, carnal e efêmero.
Então devemos escolher arriscar ou não. Se não arriscarmos, podemos sentir o medo de ter perdido uma grande oportunidade de sermos felizes de verdade. Se arriscarmos e descobrirmos ter sido a escolha errada, vem o arrependimento de ter estragado algo que antes (o relacionamento anterior) poderia ter sido satisfatório. Porém, se arriscarmos e tal sentimento for, de fato, o tal amor puro, então todo o sentir, todo o risco, todo o medo terão valido à pena. Terá tudo feito sentido.

Nesse último caso, porém, de uma pessoa em um relacionamento sentir um amor platônico por outra (que não aquela com quem tem se relacionado), e ser correspondida, há um grande questionamento! Se ela se permitiu sentir desejo, sentimento, paixão por essa nova pessoa, porque o fez? Normalmente, pensaríamos que se ela estava em um relacionamento, deveria estar satisfeita. Mas, se permitiu-se sentir algo intenso por uma outra pessoa, a lógica diria que há algo faltando, ou errado, no relacionamento que ela atualmente tem. Há o risco de a nova paixão ser apenas fruto de um desejo carnal, claro, mas, ainda assim, é grande indicação de que algo esteja faltando na relação que vem vivendo, de alguma forma.

Claro, esse mundo não é, como dizem, preto-no-branco, mas feito de infinitos tons de cinza. Nada, em se tratando de sentimentos humanos, é tão simples que possa ser facilmente racionalizado, quebrado em pequenos pedaços analisáveis, entendido pela pura lógica.
Geralmente, o conselho empregado pela maioria daqueles tidos como "sábios" seria: 'siga seu coração'! É o que dizem...
Mas, se o coração foi justamente o órgão a causar problemas...o que fazer?
Talvez, descobrir se o coração foi, de fato o causador do problema, ou se o problema está mais relacionado à gônadas...ou seja, puro desejo físico atrelado a alguma satisfação psicológica. Isso geralmente vem de amizades com alguém que nos cause atração física. Grande problema.

Enfim...postagem sobre um tema nada fácil, e que não pretendo decifrar. Poderia dar minha opinião pessoal aqui, mas prefiro deixar apenas pensamentos e filosofias indefinidas, neutras, racionais...o prezado leitor, infelizmente (ou felizmente) terá de chegar às próprias conclusões, pois temo que cada pessoa nesse mundo enxergue a questão de um modo diferente...

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