sexta-feira, 27 de julho de 2012

A Razão da Não-Razão

Já de início, algo completamente fora de tópico, e ainda assim parte adiantada do tópico semi-central: "Estranha palavra, de repente, essa 'razão', que no português chega quase a lembrar algo 'demasiadamente superficial', ou melhor dizendo, 'muito raso', ou 'rasão'. Realmente uma palavra curiosa". Tendo tirado isso de mente, vamos em frente (e a rima foi acidental).

Alguns poderiam chamar isso de 'profunda depressão' (o que não demasiado encontre-se longe de uma legítima verdade), ou em algumas culturas seria visto como sabedoria transcendental, ou ainda em alguns ramos filosóficos poderia ser tido como um olhar nihilista de mundo. A verdade (até onde se pode empregar com qualquer propriedade tal conceito) é que não há, verdadeiramente, qualquer razão para coisa alguma nesse Universo, ao menos razão que a limitada mente humana possa sequer minimamente vislumbrar. E é ao mesmo tempo tão possivelmente verdade o fator de que esta mesma 'não-razão' seja em si a própria razão desse Universo onde nos encontramos.


O ser humano é virtualmente incapaz de compreender qualquer noção de razão em qualquer coisa existente, pois sua compreensão de mundo, ou seja lá o que fôr, está enclausurada dentro de seu "Eu" particular, subjetivo, parcial e individual, por mais redundante que essa afirmação possa parecer. O Homem é limitado por um conjunto de fatores - vontades, julgamento ou raciocínio adquirido, etc. - que acabam por resumir-se num simples fato: o indivíduo consegue tão somente 'enxergar' aquilo que ele mesmo enxerga. E cada indivíduo enxerga o mundo em sua forma única de vê-lo, sendo um indivíduo (ao menos em tese) completamente diferente do outro. Obviamente, não estamos considerando o simples ato de enxergar com os olhos, no referente ao sentido da visão, mas, sim, a forma com que tudo a seu redor é percebido, interpretado, entendido e concluído (ou não). A incompreensão já é uma forma de interpretação de mundo em si.

Além disso, outro fator bastante humano, e que contribui de maneira essencial para essa provável impossibilidade de encontrar uma verdadeira razão nas coisas, é a linguagem. Nosso modo, apreendido, de processar tudo aquilo que nos cerca através da malha da linguagem é elemento fundamental para nossa limitação de uma compreensão real de tudo que nos cerca, de qualquer potencial verdade, de qualquer possivelmente existente razão que possa haver nesse Universo. Afinal, a linguagem é por demais limitada perante a pura existência das coisas. Isso é um fato bastante óbvio, mas que surpreendentemente poucos chegam a notá-lo. E basta observar a incontável variedade de expressões linguísticas (verbais ou não) que dado evento, sentimento ou objeto pode resultar de cada um de diversos indivíduos.

A linguagem, somada ao fato de ser um fator limitador em si, e talvez por isso mesmo, ainda carrega o agravante de possibilitar um jogo sem sentido de significados, onde através de rodeios e malabarismos de palavras e brincadeiras de especulações, pode-se praticamente provar o que se quiser nesse Mundo, contanto que não pareça exacerbadamente fora do convencionalmente aceito como normal e aceitável, dada determinada época, cultura ou região em que nos encontremos. Através de jogos de palavras, podemos afirmar, ao mesmo tempo, tanto nossa existência como seu oposto. Podemos criar razão, ou extinguí-la por completo. Se realmente existir uma razão ou propósito para algo, está além de nossas capacidades de expressão linguística de tal.

É devido a tudo isso que tomo por inútil, ou sem sentido, qualquer busca por razão, seja qual fôr. E, ainda que paradoxal, torna-se esse, também, o motivo pelo qual uma razão (mesmo que intrínseca somente em nossa condição humana) exista, de uma forma ou outra. Pois, se de fato aqui estamos, e existimos (ou assim o julgamos), e sendo essa nossa única percepção possível e "palpável", então nos resta tomar por (aparentemente) mais lógico que aceitemos nossa condição de existência e sigamos aquilo que observamos como o mais natural dessa nossa condição, em sua forma mais simples e direta possível.

O que quero dizer é algo que, basicamente, encontramos num simples ensinamento budista, conhecido por muitos como o tal "caminho do meio", e que possivelmente seja encontrado no lamaísmo tibetano como a regra do emprego da moderação, em qualquer coisa que façamos ou vejamos no mundo. Em mais simples palavras e idéias, falo diretamente sobre as diversas convenções humanas, encontradas em tantas fúteis e vazias regras de moral e ética, cruzadas de diversas crenças e credos, buscas por razão simplesmente pela busca em si, ou pela incapacidade de aceitar uma possível falta de razão, ou de uma razão que nos seja inalcançável. 

E é assim que, cada vez mais, me levo a acreditar na futilidade e inutilidade de uma busca obsessiva por uma razão, ou razões, de seja lá o que fôr nesse mundo: seja uma busca de razão ou sentido para a vida, ou para a existência, ou o que mais em que se possa querer inculcar uma razão.

Isso não representa um certo tipo de desistência, preguiça ou incapacidade. Simplesmente denota o reconhecimento do fato de que, muito provavelmente, uma verdadeira e real razão ou sentido, para qualquer coisa que seja, pode estar bastante além de nossa extremamente limitada compreensão. E, mesmo que tangível, talvez apenas possa nos encontrar por obra do acaso, ou por meios os quais desconhecemos, ao menos conscientemente.

Sim, é perfeitamente possível que tais pensamentos e conclusões apenas me tenham encontrado devido a um momento de elevada introspecção, isolamento emocional, vazio existencial, ou seja o que se possa de tal momento pessoal característico. Mas, nem por isso deixam de ser potencialmente verdadeiros e possíveis. Enfim, não há razão para se querer buscar razão nisso tudo...

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