domingo, 1 de julho de 2012

Vida, morte e...paixão!

OK, reconheço. Esses têm sido temas extremamente recorrentes aqui no blog: vida, morte e paixão. Mas, convenhamos, são os grandes temas presentes e essenciais na vida humana, não?! O restante são apenas complementos a esses, ou tão somente elementos presentes nesses. Tudo o que fazemos, no nosso cotidiano, nos nossos planos futuros ou memórias do passado está ligado a esses temas.

Pensamos no que fazer com nossas vidas, como vivê-las, o que queremos para ela, qual nosso sentido na vida. Nos preocupamos com a morte...nem sempre o medo dela (pois não deveria haver medo da morte em si), mas a questão de fazermos aquilo que precisamos fazer, em vida, antes que essa "partida final" nos chegue, ou então para algum ente querido. Nos preocupamos tanto com a nossa morte como com a de pessoas que amamos, e a falta que nos farão. E, então, há a paixão (clique aqui para a etimologia da palavra), em seus mais variados sentidos...falo do termo em geral, que em sua origem vocabular quer dizer tanto "sentir" como "sofrer". Mas, nos atentemos ao sentido de sentir. Temos paixões carnais, paixões por atos de lazer, e assim por diante. E diria que a paixão é nossa motivadora na vida. Trabalhamos e planejamos nossas vidas com o olhar nas paixões, sejam por uma outra pessoa, ou por uma atividade (como viajar, ir para bares com amigos, etc.).


O motivador desse post foi o filme "Fonte da Vida" (The Fountain, 2006), pelo qual tenho grande admiração, tanto por sua complexidade, como pela beleza e forma com as quais foi feito. Vale a ressalva de que esse não é um filme fácil de ser entendido, ao menos não à primeira vista. Recomendo assistí-lo umas duas ou três vezes para que se possa realmente começar a entendê-lo, e aproveitar todo o material de pensamento que ele nos estimula a fazer. É um filme que faz pensar, e também sentir.

Breve Sinopse

O filme é basicamente dividido em três momentos, que são mesclados entre si, não havendo uma linearidade (cronológica, ao menos) em que são apresentados. Esses momentos se misturam, mas há, sim, uma lógica nessa mistura. Mas, basicamente, numa tentativa de "explicar" o filme, segue a idéia central abaixo, até porque as sinopses que encontramos do filme são, geralmente, enganosas.


Tom Creo e sua esposa Izzy são extremamente apaixonados um pelo outro. Porém, Izzy tem uma doença terminal e está perto de morrer. Apaixonado, e também pesquisador da área médica, Tom corre contra o tempo e contra todos em busca de uma cura que possa salvar sua amada, mesmo que isso custe o precioso tempo que poderia estar junto a ela em seus últimos momentos.
Enquanto Tom luta para encontrar uma cura, inconformado com a possível morte de sua amada esposa, Izzy começa a aceitar o fato de que vai morrer, e a encarar a situação de forma mais tranquila. Uma das formas que ela encontra para tal é começar a escrever uma história, onde ela fala sobre um mito que havia aprendido numa viagem à América Central, na terra dos antigos Maias. Sua história fala de um conquistador Espanhol que parte para a América em busca da mágica Árvore da Vida, a única coisa que poderia salvar sua amada rainha, mantida "refém" dos poderosos e malévolos inquisidores da Igreja Católica. Mas, a lenda Árvore da Vida tem  certa origem vinculada ao mito Maia da criação do Universo, o mito de Shebalba. 
Esse mito teria origem nas observações de uma estrela moribunda encapsulada por uma nébula, a qual os Maias teriam usado como base para sua lenda do "Primeiro Pai", aquele que teria dado sua vida como forma de criação de todo o Universo e da vida nele.
Ou seja, a história, na verdade, é toda baseada na luta pela manutenção da vida, mas também na questão da morte como forma de criação. Essa é a essência do filme, por mais confuso que possa parecer num primeiro olhar. Mas, após assistí-lo algumas vezes, o filme começa a fazer muito sentido, apesar de muito complexo para ser rapidamente descrito e explicado aqui.

Enfim...

O que o filme realmente mostra é isso. Estamos sempre lutando para manter a vida, porque as paixões que temos nela nos prendem à ela. Queremos manter junto de nós tudo aquilo que amamos. E isso pode parecer algo um tanto egoísta. O cientista que, obstinadamente, lutava para encontrar a cura para a doença de sua esposa deixava de passar mais tempo com ela, enquanto ela ainda vivia. A esposa, no entanto, já havia aceitado a fatalidade de seu destino, e encarava sua morte com mais tranquilidade, aceitando o fato de que a vida tem um fim, mas que um fim é apenas um começo para algo novo.

Mas, porquê era tão difícil para o sujeito aceitar a morte da esposa, já que ela mesma o havia feito?! Provavelmente, porquê ele continuaria vivo nesse mundo, e sem a companhia da amada. Ele queria mantê-la junto de si, não estava pronto para abrir mão de sua paixão, encarar o fato de que não mais a teria por perto. Então, ele lutava contra o relógio para achar uma cura realmente em benefício dela, ou em benefício próprio, para manter a amada consigo?! Afinal, em seus últimos momentos, tudo o que ela queria era a presença dele, e não uma cura milagrosa que dificilmente chegaria.

E a maioria das pessoas é assim...têm um medo incrível da morte, tanto da sua própria quanto das pessoas amadas. O medo da própria morte está relacionado ao pavor do desconhecido. Afinal, temos medo daquilo que não conhecemos, e quando se trata de morte, nosso instinto de sobrevivência e auto-preservação fala muito alto. Então, instinto primitivo e reflexão imparcial entram em choque, geralmente o instinto prevalecendo sobre a razão.

Além do mais, a morte nos faz pensar sobre nossa própria vida. O fim nos faz pensar sobre a jornada. Nossa "destinação" nos faz pensar sobre a viagem. Ao pensar sobre nossa morte, começamos a nos questionar sobre o quê fizemos com nossa vida, se ela valeu à pena, se amamos o suficiente, se demonstramos nosso amor àqueles que amamos, se encontramos a plenitude que deveríamos ter encontrado.
Ao pensarmos sobre a morte de alguém que amamos, não nos sentimos preparados para deixar tal pessoa partir. E porquê isso? Porque não estamos prontos a entregar algo que achamos que nos pertence. Queremos manter a pessoa conosco, queremos tê-la presente, mesmo que a pessoa em questão já esteja pronta para sua própria partida, e tenha encarado o fato de que seu momento chegou. Claro, não estou falando diretamente do fato de algumas mortes repentinas e "antes de sua hora", como pessoas jovens que faleceram em acidentes, ou coisa assim. Apesar que, ainda nessas circunstâncias, a morte deveria ser aceitada com menos negatividade. Afinal, se já aconteceu, dor e rancor não trarão a pessoa de volta. E quando alguém de idade avançada falece, isso já era esperado...afinal, somos humanos, e nossos corpos foram feitos para perecer um dia, e todos temos consciência disso.

Assim, de certa forma, encaramos a morte com um sentimento de egoísmo e uma mentalidade cega. Não enxergamos aquilo que já sabemos (que toda vida tem um fim), e queremos manter perto quem amamos, não pelo bem da pessoa em questão, mas pelo bem de nossa "paixão" por tal pessoa.

Somos parte de um todo, e fazemos parte de um ciclo, um que tem início...e também um fim. É necessário compreender e aceitar isso, para nosso próprio bem. E, com isso em mente, vivermos nossa vida plenamente. Justamente pelo fato de sabermos que nossa vida termina, devemos aproveitar cada momento em sua plenitude, e vivermos sem arrependimentos. Tivemos a vida que tivemos. Se deixamos de fazer algo, a frustração não tornará nossa vida em nada melhor. Lutar para viver tudo aquilo que queremos viver seria o ideal, mas devemos aceitar o fato de que nem sempre conseguiremos realizar tudo o que queremos. Até mesmo porque a razão de querermos algo é muito confusa e complexa. Nunca estamos satisfeitos, e sempre quereremos mais, como vemos no tema central da obra "Fausto", de Goethe.

Mas, ok...esse tema é extremamente complexo, apesar de, realmente, ser extremamente simples. Complexo porque o ser humano cria complexidade em sua psiquê, mas simples porque a vida, em si, é simples. Vivemos, e pronto. Nossos desejos e paixões é que são feitos complexos, por nós mesmos. Porém, como disse, o assunto é humanamente complexo demais para ser tratado devidamente aqui. Religiões e filosofias inteiras têm sido baseadas nesses temas, há milênios, e recheados de preceitos e regras tentam dar motivo e explicações a algo extremamente simples e direto.

Enfim, aqui deixei apenas umas breves notas de alguns pensamentos, que continuarão a ser elaborados internamente, mentalmente, e com dificuldade conseguirei expô-los por completo em texto...mas, vale a tentativa, aqui e ali...rs.

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